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UMA CRÔNICA DA VIOLÊNCIA CRÔNICA PAULISTANA

>> segunda-feira, 17 de novembro de 2008

(Leia este texto até o fim. E evite comentários como "BOM O BLOG". Serão deletados)

6:40

Hugo Tognatti tomava o café e folheava as notícias do jornal. Em tempos de crise não esperava chegar ao trabalho para estar informado. Júlia, sua filha, chega. No rosto, a noite mal dormida:
- Dormiu bem, filha?
- Estou ansiosa, pai.
- Calma, Ju. Você se preparou.
- Eu sei, mas dá nervoso... Você vai me ver?
- Vou tentar.
- Ficarei tão feliz se o senhor for...

7:20

Depois de descer a Avenida Pompéia, subir a Heitor Penteado e entrar na Cerro Corá, no Sumarezinho, Hugo deixa a filha na porta da escola.
- Filha, confio em você. Tenha uma boa aula e fique calma.
- Ah, pai, estou tão nervosa... Parece que o relógio vai demorar até chegar as 5 horas.
- Farei tudo pra vir te ver.
- Eu ficarei tão feliz.
Olhou pela janela do carro e viu a Marginal de Pinheiros, lá embaixo. Já havia um trânsito considerável.

8:30

Hugo reparou que aquela morena que toda quarta ia à academia estava numa esteira mais próxima de sua prancha de supino. Mas não conseguia ver se havia aliança em seu dedo. Aos 42 anos, Hugo conservava o vigor e o charme dos 24 (apesar dos muitos cabelos brancos), quando conheceu Natália. Paixão avassaladora. De provocar terremotos e tempestades. Como uma camisinha mal (ou não) utilizada que provocou a vinda de Júlia, um casamento às pressas, mas um amor que resistiu até que um câncer agressivo e devastador levasse Natália em 2003.

13:10

- Você vai à estréia da peça de sua filha, não?
- Chefe, o senhor viu minha mesa? Quanta coisa pra fazer?
- Hugo, é sua filha. Serviço, se não fizer hoje, amanhã faz. Orgulho de filha, se você perder a chance hoje, amanhã pode ser que não haja outro. Eu dou conta.

15:40

A EcoSport de Hugo sai da Marginal de Pinheiros em direção à Praça Panamericana, em Alto de Pinheiros. Pára num semáforo atrás de um táxi e olha, entre os prédios, o colégio da filha lá no alto. Observa um flanelinha junto ao táxi. E percebe que se trata de um assalto. O taxista arranca com o carro jogando o corpo do flanelinha-assaltante ao solo. Mas ele consegue sacar a arma e dar um tiro para o alto.

16:30

Assustado, Hugo chega ao colégio e percebe uma grande movimentação de policiais, do Resgate e do Samu. O porteiro da escola o reconhece e avisa-o do que acontece: um tiro acertou a janela, entrou no pescoço de uma aluna, logo abaixo de sua orelha direita.

16:35

- FILHA... MEU DEUS!
- Pai, o senhor veio – diz com dificuldade, quase em sussurro – estou tão feliz, pai!!!
Os olhos de Júlia lentamente se fecham.

57 bedelhos!:

Lis! 17 de nov. de 2008, 22:59:00  

Nossa..muito bem postado essa sua cronica, a correlação com os fatos..
até passou um filme na minha cabecinha...sobre essa sequencia de fatos..
parabéns!!!

Flaveetcho 17 de nov. de 2008, 23:14:00  

Caramba..
Realmente, eu também 'vi' a cena..
=/

Tão triste... e saber que isso não é só coisa de contos ou novelinhas.

=/

Mas muito bem feito, como sempre. :)

:*

Fernanda Fernandes Fontes 17 de nov. de 2008, 23:17:00  

Que triste, Euzer! E mais triste ainda por ser algo tão real, tão próximo aos nossos olhos. Sinto um vazio tão grande quando ouço histórias como essas.


Que venha a paz, que nos inunde!

[ rod ] ® 17 de nov. de 2008, 23:28:00  

Realidade? sim.. e melhor é entender que se ele tivesse ouvido sua voz interior e não a do chefe.. essa história n tinha acontecido.. mas sua filha compreenderia a sua ausência se assim o soubesse?

Não.. ainda n temos esse poder de ver o futuro e portanto nossos atos de agora... podem justamente causar nossa morte em segundos.

Abraços,


Novo Dogma:
o caminHo secreTo do eXistir...


dogMas...
dos atos, fatos e mitos...

http://do-gmas.blogspot.com/

Mr. e Mrs. Ironia 17 de nov. de 2008, 23:38:00  

Ironia do destino: Chegou a tempo... de ver a filha morrer...

Ótima crônica!

Ellen Regina - facetasdemim 17 de nov. de 2008, 23:57:00  

Olá, Euzer!!!

Vim agradecê-lo pelo comentário lá no facetas! Fiquei emocionada, suas palavras conseguiram atingir em cheio o meu 'coração de pedra', srsrs.

Tenho certeza de que o meu pai ficará muito feliz quando ler suas palavras gentis.

Muito obrigada!
Ellen Regina.

Ellen Regina - facetasdemim 18 de nov. de 2008, 00:18:00  

É uma belíssima história. Triste, forte, mas belíssima!!! Gosto muito de histórias assim, reais, sem compromissos de contos-de-fada para finais felizes.

P.S.: No primeiro parágrafo, há uma pequena confusão quanto ao tempo do verbo, alternando entre passado e presente. Sugiro corrigir esse pequeníssimo detalhe, a não ser que tenha sido proposital...

Não sei se era bem o que vc queria, mas espero que tenha te ajudado
Um beijo grande.
ellen regina.
www.facetasdemim.blogspot.com

Lucas Conrado 18 de nov. de 2008, 00:21:00  

Cara... que final trágico! O pior é que essas situações acontecem na vida real nas grandes cidades...
Deve ser a pior coisa do mundo passsar pelo que ele passou...

Anderson Marin Lima 18 de nov. de 2008, 06:52:00  

Revolta 1: é a realidade;

Revolta 2: é uma realidade constante. Isso acontece diversas vezes em um pequeno período de tempo, no mundo todo;

Revolta 3: esse criminoso fdp não será punido;

Revolta 4: Um inocente paga com a vida e nem sabe o que aconteceu. A família perde uma pessoa insubstituivel, enquanto esse criminoso cretino estará vivo, matando outros inocentes, que trabalham, suam a camisa, se esforçam para ter uma vida digna...

Revolta 5: esse chefe aí é 99% ficticio... Estimular o funcionário a sair mais cedo do serviço para prestigiar a família? Até hoje, nunca vi um! Fica aí o exemplo!

Nat Valarini 18 de nov. de 2008, 08:51:00  

Bom dia Euzer!

Nossa, pode parecer exagero, mas eu fiquei arrepiada com a cena, caramba, foi muito forte.

Uma ótima reflexão de que temos que fazer agora, deixar para depois pode ser tarde demais.

Mais uma vez você trouxe uma ótima postagem, seu blog é muito bom!

Bjoks!

http://garotapendurada.blogspot.com/

Anônimo 18 de nov. de 2008, 09:58:00  

Cara,sensacional!!! Parabéns mesmo.Seria ótimo se não fosse trágico.Ótimo post.

Gabriela 18 de nov. de 2008, 10:52:00  

Infelizmente é a nossa dura realidade; todos os dias enquanto minha filha está na escola meu coração fica descompassado, fico ansiosa até que ela chegue em casa, o que podemos fazer????? Será que o ser humano tem conserto??
Parabéns, muito bem elaborado.
Abraços.

Mariana 18 de nov. de 2008, 12:12:00  

Ai Euzer....

que tristee....

bjs

sacodefilo 18 de nov. de 2008, 13:37:00  

Bem narrado, objetivo, reflexivo...
Tenho impressão que a dor de perder um filho seja algo inefável. Chico Buraque define saudade com um exemplo parecido dizendo que "saudade é arrumar o quarto do filho que já perdi"...

A maneira como você narrou deu-me empatia com a dor do pai... intensa.

Abs

Anônimo 18 de nov. de 2008, 21:26:00  
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Flávio Souza 18 de nov. de 2008, 21:41:00  

Eu creio que você antecipou por demasiado o fato. Poderia ter gerado uma dúvida maior na parte final.

De qualquer forma, gostei muito da última passagem!

iti 18 de nov. de 2008, 21:51:00  

triste em sabe que tudo isso ñ é mentira..


http://500x100.blogspot.com/

Anônimo 18 de nov. de 2008, 21:58:00  

Muito bom, bem escrita a crônica de uma situação que infelizmente não só em São Paulo acontece, parabéns

Trovão 18 de nov. de 2008, 22:18:00  

Arrepio!!

=/

nossa mt triste, mas é a realidade não so de São paulo e sim de todo Brasil!

abraços

passa lá

http://som10.blogspot.com/

Dani Uzeda 18 de nov. de 2008, 22:38:00  

Nossa... eu fiquei chocada, triste, revoltada.. misto de sentimentos. Adorei. bjus

MissCrazyLove 18 de nov. de 2008, 23:08:00  
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Ufo Brasil 18 de nov. de 2008, 23:27:00  

Vish triste msm, todo lugar e assim no brasil principalmente aff

http://rangervermelho.blogspot.com/

karine Ferreira 18 de nov. de 2008, 23:47:00  
Este comentário foi removido pelo autor.
karine Ferreira 18 de nov. de 2008, 23:48:00  

é de dar raiva!
e isso existe porra!
ocorre em todo o lugar... principalmente nas grandes cidades!
aff
mas é bom agente pensar bem sobre isso... e o que agente faz pra mudar!
creio que se "adotar" e se importar com o futuro de crianças negligenciadas, vivendo em condições para futuros marginais já ajuda bastante!

Anônimo 19 de nov. de 2008, 00:11:00  

Nossa, perfeita a cronica!
Visualizei a cena inteira aqui, e gostei da mensagem central dela. Em outras palavras, adorei seu blog!

Até mais :D

Abduzido!? 19 de nov. de 2008, 09:29:00  

Nossa cara...q Triste issu...
poxa ...me emocionei...de verdade...
tentei imaginar mas foi dificil ver seu olhar....

Abçs

Anônimo 19 de nov. de 2008, 09:58:00  

Ai que triste ... mas o pior que é uma situação que ocorre todos os dias em SP. e em outras grandes metropolis .. como a a minha mãe fala .. vc sai de casa pra trabalhar, mas do jeito que está as coisas que sabe se volta ... por isso vejo a agonia dela quando me atraso um pouco .. chego a ficar com raiva de tanta preocupação .. que eu acabo chamando de controle ...



Abç.

Anônimo 19 de nov. de 2008, 10:03:00  

E nem foi pra ninguém, acredita? Foi só um pequeno desabafo mesmo.

Obrigado, Euzer!
Volte sempre!

Wander Veroni Maia 19 de nov. de 2008, 10:59:00  

Puxa vida, Euzer! Excelente crônica meu amigo. Já trabalhei com jornalismo policial por um breve período da minha vida e, pra ser sincero, toda vez que leio ou apuro esse tipo de notícia envolvendo criminalidade ou violência, me dá um aperto no peito e uma vontade grande de lutar por justiça. Adorei seu texto, pra variar!

Abraço,

=]

-------------------
http://cafecomnoticias.blogspot.com

Beatriz Paz 19 de nov. de 2008, 15:22:00  

Faz tempo que não venho aqui! Lembra do 'Meu Namorado Imaginario'? rs
Desativei. Pro enquanto, pelo menos.
-
Quanto ao seu post... Estou toda arrepiada! Eu vi a cena toda na minha cabeça... E imaginar que isso não é uma história surreal é assustador. E triste. É deprimente que as coisas tenham chegado aonde estão.
_______________________________
Soletra pra Mim?
Novo post: Nós. Não deixe de ler, e comentar ;)
http://www.soletrapramim.blogspot.com
Se estiver interessado(a) em parceria, entre em contato ou por comentário, ou por e-mail:beatriz.spaz@hotmail.com.
Obrigada!

Nicolle Longobardi 19 de nov. de 2008, 21:45:00  

Obrigada pelos elogios sinceros.É por essas e outras que amo o blog é muito bom quando alguém reconhece o meu esforço.
Seu blog é criativo e de uma inteligência enorme parabéns!BjO

Anônimo 19 de nov. de 2008, 22:29:00  

Nossa que crônica ótima, adorei.

Tati 19 de nov. de 2008, 22:33:00  

[fazia tempo que eu não passava por aqui...]

A forma como escreveu esse conto faz toda diferença ao ler... o registro das horas dá uma certa angústia quando as relacionamentos com os fatos. Talvez pq a vida seja exatamente assim. Dá pra ler no ritmo da melodia de "Cotidiano", e tudo fica ainda mais intenso. Mais triste e bonito.

ED CAVALCANTE 19 de nov. de 2008, 22:48:00  

Eu não gosto de histórias assim. Rapaz, eu tenho uma filha e fico com o coração na mão! putz!

Thiago Borges 19 de nov. de 2008, 23:09:00  

Nossa!
Até arrepiei =|

hehehehehehehe
Bom, Lost chega no Brasil em março, mas eu já vou estar assistindo...

Eu sempre baixo
uhsauhshuashuahusausuh

abraços

Lee 19 de nov. de 2008, 23:11:00  

NOssa, fiquei chocada! Essas hist´rias sempre mechem com a gente. É a tal mensagem do "É preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã..."

Lee 19 de nov. de 2008, 23:12:00  
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joão pedro 19 de nov. de 2008, 23:17:00  
Este comentário foi removido pelo autor.
joão pedro 19 de nov. de 2008, 23:19:00  

Boa história!
Uma sugestão:
Poderia escrever um livro...
Leva jeito
abraços
joão

http://www.jotapsblog.blogspot.com/

Unknown 20 de nov. de 2008, 00:02:00  

Pura realidade, trágica, mas é realidade. Mas isso não acontece somente em SP, aqui no RJ isso também acontece e muito. Mas uma história que chegou bem próxima da que relatou foi a estudante baleada na Universidade Estácio de Sá.

Até quando continuaremos levando essas porradas da vida?!

http://maynabuco.blogspot.com

Homenzinho de Barba Mal feita 20 de nov. de 2008, 00:05:00  

Que bom seria se fosse somente ficção, um enredo Holiwoodiano. Mas sabemos quemuitos pais como Hugo sofrem todos os dias a dor de perder seus filhos pela violência.



http://hdebarbamalfeita.blogspot.com/

Erich Pontoldio 20 de nov. de 2008, 09:27:00  

Eu tenho uma filha de 10 anos ... !!!
Duas coisas tocaram fundo ... a primeira é o fato de colocar o trabalho na frente dela ... "Orgulho de filha, se você perder a chance hoje, amanhã pode ser que não haja outro..." EXCELENTE frase.

A segunda : a violencia gratuíta que leva pessoas inocentes na carona...lágrimas surguram em meus olhos meu amigo.

ps...pela descrição do bairro acredito sermos vizinhos!!

Jhulay 20 de nov. de 2008, 21:49:00  

Caraca!!! Meu nome é Júlia! To pasma!
muito bom, cara, sua cronica!!! boa mesmo! bjo

Anônimo 20 de nov. de 2008, 22:21:00  

por q a pergunta do sap??não gostou do meu texto??

Renata Andrade Chamilet 20 de nov. de 2008, 22:27:00  

E assim, num dia qualquer, dia comum, a vida se vai...
E qd a iminência da morte bate na trave, a gente pára e pensa que um dia qualquer, comum, é muito espacial.

Marco Antonio Araujo 20 de nov. de 2008, 22:55:00  

Identifiquei-me bastante com esse texto, andei escrevendo uma parecida e acabei não concluindo. Histórias parecidas nas grandes metrópoles do Brasil, que diariamente mancham as telas de TV e as páginas de jornal de sangue e cada vez menos gente dá importância a isso.
Mas o que mais gostei, apesar do choque, foi o estilo, você sabe como adoro finais surpreendentes...

Ótimo, Euzer.

Anônimo 20 de nov. de 2008, 23:02:00  

otima cronica... putz, muito boa mesmo. parabéns. abraços

Filipe Marques 20 de nov. de 2008, 23:08:00  

Poxa
A realidade nua e crua
infelizmente é o fato


otimo texto...

me arrepiou
=/

eu apenas queria um final feliz
mas nem sempre isso acontece

Filipe Marques 20 de nov. de 2008, 23:17:00  

hauhahauha
ah ta
>.<

Ellen Regina - facetasdemim 21 de nov. de 2008, 00:00:00  

acabo de descobrir q já comentei em todos!
sendo assim... deixo só um alô!

Alcione Torres 21 de nov. de 2008, 00:12:00  

Legal.

Coisinhas da Jeh _ 22 de nov. de 2008, 13:50:00  

que triste :\ me deu um aperto no coração! mas infelizmente a violência até piorando cada vez mais! :*

Anônimo 22 de nov. de 2008, 21:27:00  

Infelizmente isso acontece a todo momento. Serve para reflexão.
http://mdiversidades.blogspot.com/

iti 22 de nov. de 2008, 21:35:00  

Deus...

http://500x100.blogspot.com/

Pontiga 23 de nov. de 2008, 11:52:00  

parabenss aê....

tópico ingraçadissimo :D

massa

Anônimo 23 de nov. de 2008, 21:37:00  

Muito,muito, muito Obrigado pelo elogio! Me arrepiei quando li. Nunca achei que meus escritos fossem tão valiosos e apreciados assim! Acho que foi isso que me deu mais força pra ingressar mesmo em Letras na Facul! Obrigado!

Unknown 24 de nov. de 2008, 22:57:00  

ela ficou feliz pelo pai ter ido v-la!

Esse é o texto mais emocionante que li hoje!

O fim é certo, o que varia é a forma e o tipo de desapego que temos para com a vida.
O desapego dessa guria por exemplo, é maior que a própria morte.


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www.dacordasuapaz.blogspot.com
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