TRIO ELÉTRICO (by Sérgio Enzo)
>> domingo, 27 de abril de 2008
Eles sabiam que eu ficaria surpreso com a notícia.
Quando Euzer chegou à fila da entrada da boate, tinha um sorrisinho de quem ou havia aprontado, ou aprontaria alguma. Só não sabia que ele aprontaria comigo.
- Serginho, adivinha quem vai vir conosco hoje?
Sou péssimo para essas charadinhas, ainda mais vindas de quem vem. Então, 284 nomes depois, ela aparece. Confesso que todos os sons, todas as cores, todos os nomes, tudo naquela noite, parou por alguns instantes.
Luciana Torres – ou simplesmente, Lulu:
- Serginho, meu gostoso, meu tesão! Que saudade de você!!!
- Sua piranha... Desde quando você voltou, vagaba dos infernos? Nem pra avisar???
Havia chegado ao início da semana, a ordinária. E procurou Euzer primeiro.
- Queria fazer uma surpresa! Mas você continua delicioso – diz olhando meu corpo de cima a baixo, parando “nas partes” e na bunda, e deixando o “macho alfa” (esta história ainda vai dar assunto) aqui ruborizado – . Aliás, os dois, né? Você ficou ótimo de barba, Euzer.
E, enlaçando o meu braço e o de Euzer, Lulu ficou igual Dona Flor, junto aos seus dois maridos... E conseguiu o que queria: que as pessoas à sua volta notassem que ela estava ali. Poderosa, absoluta e, principalmente, necessária!
O “trio elétrico” estava, de novo, reunido. Desde 2004, quando Euzer começou a namorar aquele paquiderme, que não estávamos juntos. A pista da boate Villa Madalena (Bauru) foi testemunha de “altas orgias” entre nós três. Aí Lulu resolveu também arrumar um enrosco em São Paulo e rareou suas visitas a Bauru.
Lulu é designer gráfica. Depois de trabalhar em pequenas editoras, criando layouts de revistas, fazendo a comunicação visual de algumas empresas, transitando por agências de propaganda e encerrando seu ciclo paulistano na Editora Globo. Aí, arrumou as malas e passou uma temporada na Europa fazendo doutorado e especialização. E namorando, claro! Trocou de emprego como trocou marido (morou junto com um em São Paulo) por namorados (dezenas) e por ficantes (talvez algumas centenas). Agora, aquietando-se em Bauru (segundo ela própria), será responsável por uma nova revista que estará em breve em todas as bancas do Brasil.
- E você ainda quer morar lá, Euzer? Aquela porra de cidade parou. Tem carro demais, gente demais e paciência de menos! A única coisa que ainda tem bastante é homem! Ô, coisa boa! Bem, pelo menos terei seu apartamento lá, quando quiser caçar uns machos!
Lulu tem 34 anos. Aparenta 25 (principalmente com seu jeito manso e delicado de dizer absurdos como este que você acabou de ler), age e se comporta como se tivesse 18 e sua mãe jura que ela ainda não fez 3, pois a trata como “meu bebê”. Morena, tipo comum, insiste em viver fazendo luzes no cabelo. Qualquer dia Carla Perez vai processá-la, por ser mais falsa loira que ela. Uma mulher que se agiganta só com sua presença, mesmo tendo apenas um metro e sessenta.
Conversamos quase uma hora antes de irmos para a pista. Lulu sempre em contato físico com os dois ao mesmo tempo. Lulu é assim. Mas é assim comigo e com Euzer. Só. Por trás deste jeito “mulher da vida”, há um ser humano encantador, uma amiga leal e fiel, uma companheira divertida e, principalmente, um par de ombros e ouvidos perfeitos para nos amparar. Por que o filho da puta do ex marido dela foi trocá-la por OUTRO?
Na pista ficamos “conhecendo o ambiente” por algumas músicas. Até que Ida Corr é despejada! Dona Flor pega seus dois maridos e os leva para o meio da pista. E, entre um sanduíche de Lulu (sendo eu e Euzer as metades do pão), até beijo na boca rolou. Ora comigo, ora com ele. E de língua!
As pessoas do lado, que já estavam – por conta da bebida – dando seus shows gratuitos, ficaram estarrecidas conosco no meio da pista quase fazendo “sexo a três” – ainda bem que estávamos devidamente vestidos – agora ao som de Yves La Rock e sua dançante Rise Up (“My dream is to fly over the rainbow, so high...”).